12 de outubro de 2010

Subentendido

Hoje, feriado nacional de Nossa Senhora Conceição de Aparecida, padroeira desse Brasilzão, fiquei em casa com minha mãe. Católica, ela assistiu a missa das 10h pela televisão, na TV Aparecida, diretamente do "maior santuário mariano do mundo". Enquanto acordava ouvi o padre avisar presentes e telespectadores que o candidato José Serra, assim como o recém eleito governador de São Paulo Geraldo Alckmin e todo um agrupamento de "autoridades" estariam presentes. Durante a missa, com direito a hino nacional, vez ou outra a presença dos dois era lembrada. Alckmin chegou a participar lendo um trecho da Bíblia e Serra foi chamado de governador, em ambos os casos seguido por longas palmas.

Todo 12 de Outubro tem um político em Aparecida, mas esse ano a coisa religiosa está em alta. Todo mundo quer ser católico, ou só religioso, pra não pegar mal com esse povo todo que crê em Deus, toca a vida de acordo com preceitos bíblicos e, principalmente, leva isso em consideração na hora de votar. Não sei qual a porcentagem dos brasileiros se encaixa nessa descrição, mas os candidatos e os líderes de campanhas devem ter os números e esses números devem ser bastante altos, a julgar pelo empenho na questão.

Ataque

Confesso que estava alheio a esse debate, mas logo após o primeiro turno foi impossível continuar assim. Comecei lendo isso:
5 de outubro de 2010 às 20:41
Marco Aurélio Garcia: “Manchete da Folha é mentirosa”
por Conceição Lemes
Manchetão da Folha de S. Paulo de hoje repercutiu em toda a imprensa. 
“Só que a manchete da Folha é mentirosa”, detona o professor Marco Aurélio Garcia. “O aborto não consta do programa de governo da candidata do PT. Portanto, é impossível retirar uma coisa que não tem.”
“O Serra tenta fazer do aborto uma questão central do segundo turno para desviar o foco do debate de programa de governo, que ele não tem”, afirma Marco Aurélio. “Aí, parte para uma guerra suja, para desqualificar a nossa candidata. E como não tem coragem para assumir a paternidade a sordidez, ele a terceiriza para os seus paus-mandados.”
O professor Marco Aurélio Garcia é coordenador de programa de governo da candidata petista. A partir de hoje passa a ter maior participação na coordenação da campanha, do qual já é um dos coordenadores.
A mensagem sobre aborto postada no twitter por André Vargas, deputado federal (PT-PR) e secretário nacional de comunicação do PT,também gerou muita crítica hoje, principalmente na internet.
“Além de inoportuna”, reagiu Marco Aurélio, ” é uma declaração injusta com as feministas.”
André Vargas disse no twitter: “Foi um erro ser pautado internamente por algumas feministas. Eu e outros fomos contra [a descriminalização do aborto]”.
“A declaração dele [André Vargas] é inoportuna, pois é uma questão que não pode ser discutida de forma simplista”, explica Marco Aurélio. “Injusta, porque as feministas não estão exigindo que incluamos o assunto neste momento no debate. Não podemos ganhar uma eleição usando o discurso ofensivo, discriminatório, da direita. Portanto, repelimos totalmente esse tipo discurso. A Dilma não é a favor do aborto, mas entende que ele tem de ser discutido no âmbito da saúde pública e das respostas da saúde da mulher.”
Aliás, saúde (implica fortalecimento do SUS), educação (de melhor qualidade) e segurança pública serão as três áreas prioritárias do futuro governo Dilma, que já as discutiu com os governadores eleitos.
“Serão os governadores que darão sustentação a esse programa”, diz Marco Aurélio. “O Rio de Janeiro é uma prova de que isso dá certo. A parceria do governo federal com o estadual está dando bons resultados na segurança pública. Já em São Paulo, onde isso não acontece, a política de segurança pública fracassou.”
Os três pontos prioritários já são compromissos do programa de Dilma. Só que agora a campanha pretende explicitá-los mais.
“O que está em jogo são dois projetos”, ressalta Marco Aurélio. “O da oposição, que é um projeto neoliberal. E o nosso que privilegia a melhor educação, reduziu a mortalidade infantil, tirou 30 milhões de pessoas da linha abaixo da pobreza, gerou 14 milhões de empregos com carteira assinada, entre muitas conquistas. A sociedade não é composta por um bando de imbecis, como imagina a oposição. Ela vai saber escolher qual projeto tem realmente mais compromisso com a vida.”
“Para isso, pedimos desde já aos militantes e simpatizantes do PT, PMDB, PCdo B, PSB, PDT, que nos ajudem a divulgar esses compromissos do governo e a desmascarar as mentiras do esquema Serra”, arremata Marco Aurélio. “Nós não queremos apenas vencer. Queremos uma grande vitória que legitime ainda mais o governo da futura presidente do Brasil, Dilma Rousseff.”
(link original: http://www.viomundo.com.br/politica/marco-aurelio-garcia-manchete-da-folha-e-mentirosa.html)
Como um jornal dá manchete de capa para uma notícia inexistente? Jornal pautado. Não é jornalismo, é panfletagem política disfarçada. Usam a  polêmica da religião para redistribuir o eleitorado. Mas a Dilma reagiu no debate da Band, acusou a mulher do Serra, Mônica, de ser uma das cabeças da campanha difamatória, outra cabeça seria o Índio, da costa.
Mônica Serra diz desconhecer crítica de Dilma
No intervalo do debate, mulher de Serra afirmou não saber o motivo de ter sido citada pela candidata petista em tema sobre aborto
Nara Alves, iG São Paulo | 10/10/2010 22:53
A mulher do presidenciável tucano José Serra, Mônica Allende Serra, citada pela candidata à Presidência petista, Dilma Rousseff, no primeiro bloco do debate realizado neste domingo pela TV Bandeirantes, afirmou durante o intervalo “não saber” sobre o que a ex-ministra se referia ao mencioná-la em uma resposta sobre aborto. A candidata do PT fazia menção a uma frase em que Mônica teria dito que ela seria a favor “de matar criancinhas”, durante corpo a corpo com eleitores em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, no mês de setembro.
Já o candidato a vice na chapa de Serra, o deputado Indio da Costa (DEM-RJ), não quis comentar o assunto, respondeu apenas "sou só amor". Enquanto isso, o coordenador da campanha tucana, Sérgio Guerra, comemorava os ataques de Dilma no confronto: "Deixa ela falar".
Guerra, que é senador por Pernambuco, gabou-se ainda de ter “acertado o placar” Serra versus Dilma nas eleições no primeiro turno no Nordeste. "Eu falei bem no começo que nós tínhamos um patamar mínimo de 35% no Nordeste, mas agora vai ser mais", disse. Ao ser perguntado pelo iG para quanto iria esse número, ele brincou: "Preciso observar mais, senão vou ficar igual aos institutos de pesquisa..."
(link original: http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,mulher-de-serra-faz-campanha-no-rio-e-ataca-dilma,609885,0.htm)
Mas...
Mulher de Serra faz campanha no Rio e ataca Dilma
14 de setembro de 2010 | 19h 41
GABRIELA MOREIRA - Agência Estado
Anunciando a quem passasse: "Sou a mulher do Serra e vim pedir seu voto", Mônica Serra, passou a tarde de hoje em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, acompanhada do candidato a vice na chapa encabeçada por José Serra (PSDB), Indio da Costa (DEM). Na cidade que foi governada pelo candidato ao senado Lindbergh Farias, do PT, nos últimos cinco anos, a mulher de Serra partiu para o ataque à adversária do marido, a petista Dilma Rousseff.
A um eleitor evangélico, que citava Jesus Cristo como o "único homem que prestou no mundo" e que declarou voto em Dilma, a professora afirmou que a petista é a favor do aborto. "Ela é a favor de matar as criancinhas", disse a mulher de Serra ao vendedor ambulante Edgar da Silva, de 73 anos.
Na caminhada pelo centro da cidade, Mônica ainda parou para conversar com taxistas, mulheres, vendedoras de lojas e jornaleiros. Sobre sua participação na campanha, disse que tem montado a agenda em locais em que tem a oportunidade de conversar com líderes comunitários.
"Minha diretriz é conversar com a população, de fato. Não só ir para eventos, para agitação de bandeiras. Embora isso tenha importância para a militância e para o partido, as necessidades locais são muito importantes", afirmou. Depois da caminhada por Nova Iguaçu, Mônica e Indio inauguraram um comitê de campanha em Petrópolis. Amanhã, a primeira dama passa o dia em gravações em São Paulo.
Sobre a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que o DEM, partido de Indio da Costa, deveria ser "extirpado" do cenário político nacional, o candidato a vice afirmou que o presidente mostrou o que pensa. "Ele falou o que realmente pensa. Ele não é contra o Democratas, é contra a democracia", disse.
(link original: http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,mulher-de-serra-faz-campanha-no-rio-e-ataca-dilma,609885,0.htm
... ela mentiu!

Reação

Gabriel Chalita já foi aliado de Alckmin...
18/09/2009 às 4:21
PT quer Chalita no palanque de Dilma
Por Julia Duailibi e Clarissa Oliveira
O vereador paulistano Gabriel Chalita (PSDB) avisou o ex-governador e padrinho político Geraldo Alckmin que sairá do partido. Com um pé no PSB, Chalita se reúne hoje com o comando do PT, com o qual flertou e para o qual cogitou mudar, a fim de dar andamento às discussões sobre uma composição em 2010. A ida de Chalita, vereador mais votado em 2008, para a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fortaleceria o palanque da pré-candidata, Dilma Rousseff, no maior colégio eleitoral do País, governado desde 1995 pelo PSDB.
O PSB espera a filiação de Chalita já na semana que vem. Anteontem, o vereador conversou em Brasília com o presidente do partido, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Pelo PSB, Chalita deve disputar uma vaga ao Senado - embora tenha sido sinalizada a hipótese, pouco provável, de concorrer ao governo do Estado. O cenário hoje é o de dobradinha com Aloizio Mercadante (PT), candidato à reeleição. A negociação acirra também a disputa interna no PT paulista. O time da ex-ministra Marta Suplicy sonhava em tê-la na corrida por uma cadeira no Senado.
Chalita esteve recentemente com o presidente do PT, Ricardo Berzoini, e com a pré-candidata do partido à Presidência, Dilma Rousseff. Deixou claro ao comando petista que tem uma “grande simpatia” por Dilma, resultado dos dois encontros que teve com a ministra. Pesquisas qualitativas encomendadas por ele, no entanto, mostravam que não seria bem vista pelo eleitorado sua mudança para o PT, ferrenho opositor dos tucanos em São Paulo. A alternativa seria outro partido da base. Na terça-feira, ele se encontra com a presidenciável do PV, Marina Silva. Deve recusar o convite dos verdes, por avaliar que o partido tem pouco tempo de televisão.
(link original: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090918/not_imp437108,0.php)
 ... hoje é a arma do PT para ajudar Dilma com a questão religiosa:
05/10/2010 - 09h00
Chalita ajudará PT a avançar entre religiosos
DANIELA LIMA DE SÃO PAULO
Eleito deputado federal com a segunda maior votação do Estado, Gabriel Chalita (PSB), ex-secretário de Educação de Geraldo Alckmin (PSDB), tornou-se aliado de primeira hora da candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff. Ex-tucano, diz que não admira José Serra (PSDB). 
Com 560 mil votos e forte ligação com a ala carismática da Igreja Católica, será uma das armas do PT para avançar entre os religiosos. "Vou me empenhar pessoalmente nisso", afirmou em entrevista à Folha. Confira os principais trechos da conversa.
O sr. ganhou espaço na campanha de Dilma Rousseff. Como é a sua relação com ela?
Gabriel Chalita - Eu respeito muito a Dilma e outros nomes do PT. Dei a ela o que pude de sugestões, principalmente na área da educação. Por outro lado, tenho amizades no PSDB. Torci pela vitória do Antonio Anastasia, em Minas, e creio que o Geraldo Alckmin fará grande governo. Política é construir pontes, e eu fiz isso.
O sr. não falou de José Serra. Qual a sua opinião sobre ele?
O Serra tem qualidades. Mas, pessoalmente, não é um político que eu admire.
Como o sr. avalia a polêmica em torno da posição de Dilma Rousseff sobre o aborto?
A crítica é boa quando baseada em fatos. Mas essa tentativa de desconstruir pessoas com boatos é muito ruim. Dilma nunca disse ser a favor do aborto. Ela se posicionou, abordando o tema como uma questão de saúde pública. Eu particularmente sou contra. Mas a questão central nesse caso é a boataria. Isso aconteceu com o Lula, em 2002. Diziam que ele ia mudar as cores da bandeira e fechar igrejas.
O sr. tem uma relação muito forte com a ala carismática da Igreja Católica. Vai se empenhar para desmentir esses boatos entre os religiosos?
Me empenharei pessoalmente nisso. Não é só uma defesa da Dilma, mas da maturidade no debate político.
O sr. acha que a Igreja contribui para o debate político?
Contribui, mas quando não usa a instituição para influenciar o voto. É importante que a igreja promova o debate, para que os fiéis saibam como pensam os candidatos. Mas o Estado é laico e acho que ele tem que ser laico. Ninguém ouviu o cardeal de São Paulo [dom Odilo Scherer] ou o arcebispo do Rio de Janeiro [dom Orani João Tempesta], declarando votos. Eles foram prudentes.
O sr. é candidato a assumir o Ministério da Educação?
Sou candidato a fazer a lei de responsabilidade da educação, que é uma lei que estabelece sanções a quem não cumpre metas. O que falta no Brasil é continuidade. Temos bons projetos.
Mas o sr. sonha em assumir a pasta?
Não. Não penso nisso. E acho que nem ela [Dilma Rousseff] pensa nisso. Seria indelicado começar a pensar no governo sem estar eleita. 

(link original: http://www1.folha.uol.com.br/poder/809871-chalita-ajudara-pt-a-avancar-entre-religiosos.shtml)
Pois ontem Gabriel Chalita foi com Dilma à Basílica de Aparecida. Uma tentativa de fortalecer a imagem da candidata junto ao eleitorado religioso, acabar com essa discussão toda, por um ponto final e ainda por cima conseguir capa nos jornais impressos NO dia da padroeira, dia seguinte. Uma jogada e tanto, mas...

Contra-ataque


... não adianta fazer a lição de casa. Se o jornal (Folha) quer te ferrar, ele te ferra, e na capa! Mas pra fingir que não te ferrou, ele coloca dentro no jornal, na página A4, uma foto um pouco melhor...


... mas daí te ferra na legenda!

A mídia, enquanto partido político organizado mas sem legenda (PiG é informal, ainda) quer guerra. Qualquer bobagem vira pauta!

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